Vidaloca
🚨 Alerta de gatilho: doenças, morte, luto.
Um adjetivo bom pra vida é louca
Porque pra viver não pode bater bem
Se bem que no fim o mundo está morrendo
No final de tudo não sobra...1
Este texto não tem moral, não tem lição. Não tem beleza nem acalento. É um grito de protesto contra a brevidade da vida. Contra o quão fácil é desistir de viver, de lutar, porque a vida é cansativa. A vida é dura. É louca.
Uma pessoa a quem amo muito está findando a vida devido a um câncer. O prognóstico, até onde soube, é de alguns dias. Eu e algumas amigas de infância estávamos, hoje, lembrando dos tantos momentos bons que passamos juntas, com essa pessoa, que foi nossa professora na infância e adolescência. Juntas, concordamos que é inconcebível essa partida. Não faz sentido. Não como está sendo. Não como foi decidido que seria. Não faz sentido, nada faz.
Acho que falei pouco o quanto a amo. O quanto ela foi e é importante na minha formação como pessoa. O quanto ela mudou minha vida, de verdade. Talvez ela não saiba que, enquanto muitas pessoas apontavam demônios em mim por causa da minha sexualidade, ela foi um abraço e um choro unido ao meu. Foi gesto e palavra de amor e acolhimento, ainda que nossos pensamentos e convicções divergissem tanto.
Mesmo que eu tenha falado pouco o quanto a amo, eu sinto que ela sabe. Naqueles tantos abraços, ela soube. Nas lágrimas, ela soube. Um mês atrás, quando nos falamos pela última vez, ela soube.
De repente a vida é isso, né? Um pedaço de cada pessoa que fica na gente e não temos pra onde devolver. Dói. Muito. E nada está sob controle.
Pra viver não pode bater bem, mesmo.